"Eu quero aceitar Jesus. E isso não está longe de
acontecer", diz o funkeiro, que bomba com o vídeo 'Os caras do momento' no
YouTube.
MC Nego do Borel, é o novo nome do funk ostentação carioca,
que depois dos representantes de São Paulo, começa a despontar por aqui. O
clipe "Os caras do momento" tem cinco vezes mais visualizações que o
bombado "Beijinho no ombro", de Valesca Popozuda.
Batizado Leno Maycon Viana Gomes - em homenagem a Michael
Jackson e John Lennon -, o moço de 21 anos, nascido e criado no Morro do Borel,
comunidade da Grande Tijuca, na Zona Norte do Rio, o MC queria ser funkeiro
desde pirralho. "Ia para os bailes aos dez anos de idade, eram sempre do
lado de casa, queria viver naquele mundo. Ficava perturbando os DJs e já
compunha minhas próprias músicas", recorda.
De tanto pedir para subir em um palco e cantar um de seus
funks, o menino conseguiu sua primeira chance. Cantou para uma multidão,
arrastou um bonde. Ninguém da família viu. "Minha mãe é evangélica, lá em
casa sempre tem culto. Moro praticamente em uma igreja", brinca ele.
Religião, no entanto, é coisa séria em sua vida. Meio ressabiado, ele conta que
só ouve Música gospel, saca o celular do bolso e mostra um vídeo de cantores
evangélicos que falam de Deus: "Eu quero aceitar Jesus. E isso não está
longe de acontecer".
Seria no mínimo controverso pensar que o garoto que já foi
um rei de proibidões seja tão apegado à fé. "Sempre tive. Fé em Deus e em
mim. Quanta gente dizia que eu não seria nada, que meus sonhos não iriam se
realizar? Mas consegui", observa ele.
Entre os sonhos realizados, além de mostrar sua música, é
claro, conseguiu comprar o tal carrão, uma casa para a mãe no próprio Borel,
bens de consumo e ouro. Muitos. São cordões de ouro maciço, relógios,
braceletes cravejados de brilhantes.
Não é para menos. Com o sucesso nos bailes, Nego recebe por
mês aproximadamente R$ 200 mil mensais. Faz em média cinco shows por noite e
acaba de assinar contrato com a Sony Music. Chegou ao mainstream e vai gravar
um DVD com a participação de Naldo. "Não sei se vou viver de funk daqui
uns anos. Se eu me converter, vou largar isso tudo", afirma.
Difícil acreditar. Como diz sua música"Diamante da
lama", na qual conta parte da sua história, a trajetória não foi nada
fácil. "Nascido, nascido num berço detido/Eu soltei o meu grito/Um grito
de humilde bacana/Sou mais um diamante retirado da lama". A lama a qual se
refere era o meio violento em que foi criado. "De todos os meninos que
andavam comigo, o único vivo sou eu. Tudo morreu no tráfico, tudo andava com
fuzil aí. Teve um dia em que eu fui para a escola com um amigo, ele parou no
meio desse escadão onde a gente tá, e levou tiro. Não sei como escapei de ser
bandido. Foi Deus mesmo e minha mãe", conta.
Era dona Lica que levava o garoto para treinar futebol no
Fluminense. Mas faltava grana para a passagem para o lanche, para a chuteira.
"Tentei no futebol/E quem me levava era a minha mãe/Num campinho cheio de
buraco/Sem chuteira, vestindo um sapato/Era brabo, era brabo, era brabo",
canta ele para responder como era a época mais pobre de sua vida.
Agora o moço é assediado, sustenta a família. Menos amigos.
"Meus amigos só querem saber de farra, querem trabalhar nada",
entrega. Diz que toma suas cachaças e até experimentou drogas. Mas saiu há
tempo, jura. Preferiu o entorpecimento musical, mas ainda acha meio estranho
todo o circo armado à sua volta. Acha esquisitíssimo, por exemplo, que tatuem
seu nome na pele. "Coisa de fã, né? Mas eu jamais faria isso", diz.
Com fã, ele garante, também não se envolve. "Gosto de
garota de família, séria, com objetivos. Quero casar, ser pai de família, ser
direito. Até lá eu aproveito", planeja ele, solteiro. "Até junho vou
morar na Barra da Tijuca, comprar uma casa lá. A casa da minha mãe é a melhor
de todo o morro e daqui a pouco vou trocar de carro", ostenta. Como diz o
refrão de sua autobiografia musical: "Olha só como o bonde tá/Olha só eu
to bem de vida/Olha só a Mercedes Benz/Olha só, olha a Capitiva, olha só eu to
rindo a toa".
Fonte: EGO