Bem aventurados
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos…” (Mateus 5:6).Ao soar em nossas mentes as palavras desse fragmento do sermão da montanha, somos levados, imediatamente, as seguintes indagações: 1) Onde está a ênfase: a) na pessoa de quem tem apetite (desejo insaciável) por justiça, como um elogio, uma palavra de ânimo? b) na própria “justiça”, como algo essencial a ser buscado? c) ou na promessa da fartura, que redundará na felicidade (bem-aventurança) daquele que sofre pela Justiça? 2) Quando a promessa se cumprirá: na eternidade ou no tempo presente? 3) Qual o objetivo de tal declaração?
Não podemos nos descuidar de que tal bem-aventurança é proclamada pelo Senhor Jesus, no contexto do sermão do monte, onde de maneira incisiva, visceral, passa a revelar que sua missão implicaria na substituição da Lei pela Graça, ou seja, que a letra fria da lei seria substituída por seu comando, pelo cumprimento do seu espírito; que a religiosidade das solenidades vãs seria substituída pela vivência da Palavra.
Sob essa ótica, imaginar-se que a referência a “justiça” significa apenas uma exaltação à retidão moral, à lisura nos negócios ou na política, ou mesmo à eqüidade na distribuição das riquezas, seria reduzi-la a termos humanos, como se fosse possível a verdadeira e desejável Justiça, sem a noção de pecado ou da existência do próprio Deus, como pessoa interessada em relacionar-se intimamente conosco.
Bem entendido, pois, fome e sede de justiça têm muito mais a ver com o desejo de estar em plena comunhão com Deus, livre do domínio do pecado – não apenas dos atos externos, mas também daqueles que se processam no íntimo. A partir daí, reflexamente, como conseqüência, é que essas questões terrenas – que não são pequenas, é certo – passam a ser consideradas.
É inegável que a função imanente a todo cristão de ser “sal da terra” e “luz do mundo” conduz inevitavelmente à prática da justiça já em nossos dias. Todavia, a força das palavras em comento possui uma abrangência maior, superior; seu verdadeiro alcance dirige-se ao homem da eternidade, resgatado do Juízo eterno por meio da fé no poder substitutivo da Cruz de Cristo.
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